Não sei se você concordará, mas não
discutirei aqui a legitimidade, razões e diretos políticos inerentes às
manifestações populares ou a gestão econômica de grandes eventos. EU ESTOU AQUI
FALANDO DE LIXO E RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL.
O Brasil vive um momento de grande
ocorrência de manifestações populares. O povo está nas ruas e nos estádios. O
grito é de gol e de palavras de ordem. Estive nestes lugares e vi e senti todas
as sensações e emoções que ambas as situações podem proporcionar.
Mas confesso, muito me decepcionei ao
caminhar pelas ruas e ver que exigindo, entre outras, a urgência da melhoria
das condições ofertadas pela Rede Pública de Saúde e Educação, muitos
manchavam aquilo que já haviam conquistado: sua condição de cidadãos
conscientes. Sim, porque um rastro de toneladas de lixo depositadas
desnecessariamente nas ruas e estádios não me parece muito adequado, em
um momento que queremos demonstrar força e consciência...
Caminhando quilômetros em avenidas em Belo
Horizonte, durante manifestações, me deparei com o descaso pela coisa pública,
exatamente um dos pontos pelos quais milhares estavam ali a protestar, clamando
pelo respeito ao patrimônio monetário do País.
Recolher lixo custa dinheiro, e muito...
Recolher lixo custa dinheiro, e muito...
Mas muitos, digo muitos, insistiram em lançar embalagens plásticas, de vidro, alumínio e papel pelas vias públicas. Poucos procuravam as lixeiras e certamente podemos contar, entre milhares, apenas dezenas que retornaram com seus resíduos dentro da mochila. Entristeci-me, pois me lembrava que ali estávamos a exigir ser tratados como cidadãos com maturidade política, aptos a reivindicar com consciência e direito, a tomada de posse da integridade do que nos garante a carta magna. Mas a maturidade exigida não fazia uso dos princípios básicos da educação. Princípios estes que nossos descendentes já devem sair de casa levando consigo para a escola, a mesma que exigimos ser de qualidade e "com padrão FIFA". Educação básica de respeito mútuo e aquele princípio elementar de "não jogar papel no chão" tão simples, quase banal... Mas poucos se lembraram disso no clamor pelos direitos e respeito à cidadania.
O resultado foram toneladas de lixo
recolhidos com o uso do dinheiro público e a ocupação dos aterros sanitários
por resíduos que deveriam e poderiam ter sido reutilizados, reciclados, ou
melhor, evitados.
Já nos Estádio Mineirão, na semifinal
Brasil x Uruguai onde revestidos de espírito desportista, em clima de
festividade, o povo se aconchegava no então "padrão FIFA"... E aqui
vale lembrar que todos os estádios do Brasil se submeteram a uma auditoria da
Green Building Council Brasil que investigou vários quesitos, entre outros, a
existência de reservatórios para reutilização da água de chuva e placas de
captação de luz solar para geração de energia fotovoltaica que podem valer a
redução de até 50% com o gasto de água e 30% no consumo elétrico.
Iniciativa que pode diminuir também a geração de resíduos sólidos em 80% e as
emissões de gases de efeito estufa em 35%. Voltando então ao estádio e devidamente
uniformizados, os cidadãos se sentem "donos" e merecedores de todas as
honras e paparicos. Pois os tinham: cadeiras confortáveis, banheiros limpos,
sabão líquido, toalhas e papel higiênico em abundância, telões com alta
definição, rampas de acesso, monitoramento, segurança, etc, etc, mas tinham
também instalados 1.400 coletores de 180 litros nas cores verdes (resíduos sólidos) e
cinza (orgânicos) e 2.400 de 100 litros para resíduos recicláveis,
segundo informado pelos organizadores do evento. Sim, porque já era previsto,
segundo o Chefe do Departamento de Responsabilidade Social Corporativa da FIFA,
Federico Addiechi, a estimativa de coletar, em média, oito toneladas de resíduos
recicláveis por jogo. Mas o resultado visual/residual do placar 2x1, não fora
diferente daquele que se configurava na manifestação que simultaneamente
ocorria no lado externo do estádio: lixo, muito lixo abandonado pelo chão,
junto às cadeiras e pelas demais dependências do estádio. Onde estavam as
lixeiras? Ali bem na saída, por onde obrigatoriamente todos deveriam passar. E
não me pergunte o porquê me incomodo tanto com isso. É da minha natureza, ou
talvez porque mesmo tendo ido assistir um jogo de futebol que muitos que estavam
do lado de fora criticavam, eu ainda mantinha minha cidadania intacta... E
entre outras atitudes que preservavam essa minha condição, me co-responsabilizei pelo lixo que produzi naquele
evento e o depositei na lixeira de recicláveis.
Muitos se perguntaram "porque não
posso acessar as dependências do estádio levando comigo minha garrafa de água,
meu lanche comprado na padaria, minha barrinha de cereal? Exatamente por isso: dentro
do programa de responsabilidade compartilhada na destinação correta dos
resíduos sólidos, na erradicação dos lixões e promoção do consumo consciente -
a já conhecida Política Nacional de
Resíduos Sólidos - promotores e patrocinadores devem assumir a co-responsabilidade
na destinação dos resíduos ali gerados. Então, as embalagens e resíduos que ali
forem depositados transformam-se em co-responsabilidade das marcas contidas
nela. Para que exista um programa padrão de coleta, reciclagem e reutilização
dessas embalagens, respeitando suas características, os patrocinadores limitam
o consumo dentro dos estádios às suas marcas. Nesta linha de pensamento, vamos
combinar, faz sentido. Veja um exemplo: durante as partidas dos jogos da Copa
das Confederações, numa proposta apresentada à FIFA pela Coca-Cola Brasil,
que dá suporte para o desenvolvimento de 300 cooperativas de catadores, em
parceria com a ONG Doe Lixo, 350 catadores entraram em ação, coletando os resíduos
e fazendo um trabalho de triagem, num programa de reciclagem que evitou que
toneladas de lixo fossem levadas diretamente para os aterros sanitários. Um
luxo, quando apenas 8% dos municípios brasileiros tem coleta seletiva e
geram juntos 240 mil toneladas de lixo por dia e 76% não tem destinação
correta.
Final do Jogo BrasilxUruguai - Mineirão, 26/06 Foto: Henrique Pena |
No final da partida, o registro de poucos resíduos depositados pelos torcedores nos coletores. |
Sem coleta seletiva, três mil lixões no Brasil concentram grande parte do material reciclável e 80% da reciclagem são feitos nesses locais, num trabalho inseguro e insalubre, envolvendo mulheres e crianças. Portanto, quando não joguei meu lixo no chão, durante as manifestações, eu não estava fazendo nada demais. Apenas estava exercendo minha cidadania co-responsável em relação a outros cidadãos. E se fiz o mesmo no estádio, é porque aprendi em casa a não jogar papel no chão, antes mesmo de ir para a escola pública, onde aprendi a escrever e o que me deu a condição de hoje poder produzir esse texto que já estava preso na garganta, muito mais que um grito de gol.
Contraditório, mesmo. Pra mim, a capacidade de cuidar de onde se vive, de manter cidade limpa e saber dar destino correto ao lixo que produzimos, seja onde for, é um dos sinais mais evidentes de desenvolvimento...! Abs.
ResponderExcluirTomara que seu texto toque pessoas fazendo com reflitam sobre tudo que vc escreveu.
ResponderExcluirInteressante, muito.
Abraços!
A população precisa ser educada. Falta um bocado ainda pra gente aprender que não pode apenas exigir, que devemos ser a mudança que queremos no mundo. Ou seja, a mudança começa em nós!
ResponderExcluirBeijokinhas e excelente findi!
Luiza Mallmann
decorarsustentavel.blogspot.com
É LAMENTÁVEL VERMOS CENAS DE SUJEIRAS ESPALHADAS PELAS RUAS, POR TODOS OS LADOS. A POPULAÇÃO SE QUIXA MUITO DOS POLÍTICOS, DAS ATITUDES GOVERNAMENTAIS MAS SE ESQUECEM QUE A "EDUCAÇÃO, VEM DO BERÇO". ENQUANTO O POVO NÃO ACORDAR, INFELIZMENTE POUCA COISA VAI MUDAR... :(
ResponderExcluirQUE TODO MUNDO SAIBA, QUE NÃO É CAPRICHO: CIDADÃO CONSCIENTE, CUIDA DO SEU LIXO! ;)
ABRAÇÃO PROCÊ, COLEGA RECICLONA! ;)
Ainda temos tanto a aprender , tanta conciência a ser desenvolvida ...
ResponderExcluirOlá Maria. Que maravilha de texto. Já compartilhei no FACE para que mais e mais pessoas possam ler. Como seria bom se as pessoas tivessem a consciência da imaturidade e total falta de responsabilidade jogando lixo por tudo quanto é lugar. Já vi pessoas que têm alto poder aquisitivo e podemos dizer assim 'civilizadas' e 'educadas', jogarem pela janela de seus carrões caros latinhas de refri, papel e garrafinha de água.
ResponderExcluirAs pessoas necessitam urgentemente se conscientizar de que manifestações populares é algo importante, apreciar partidas de futebol também, mas 'vamos e venhamos'....não precisa deixar uma avalanche de sujeira por onde passam.
É lamentável ver estas imagens!
Um abraço, amiga. Vc está fazendo a sua parte. Façamos a nossa!
Isabel Ramalho
baudaarteira.blogspot.com
Amiga,
ResponderExcluirParabéns pelo texto tão bem escrito. Agradeço o alerta e informação. É triste ser tão evoluída quando em volta estamos todos espalhando lixo. Estamos, porque estou incluída, ainda que guarde papeizinhos usados na bolsa, recicle sempre que posso. Mas a sua consciência está muito mais desenvolvida. Serei, depois deste texto, mais co-responsável com o planeta. Vivemos como se este assunto não nos dissesse respeito. Percebo isso quando reclamo da torneira aberta ou das luzes acesas ou até mesmo quando levo minhas sacolas para o mercado. Muitos acham que estou ajudando aos donos dos supermercados. Entendo o seu desabafo, este grito preso na garganta.
Parabéns, minha amiga. Sou sua admiradora.
Beijos,
Bel
Olá,
ResponderExcluirConcordo plenamente com tudo que escreve, o que precisa é de uma grande campanha de conscientização como aconteceu alguns anos atrás, onde figurava o Sujismundo e a Frase POVO LIMPO É POVO DESENVOLVIDO, não adianta colocar lixeiras se o povo não tem educação e ainda roubam as lixeiras.
Daí, façamos a nossa parte.
Grande beijo,
Shirley Nesi
parabes pela sua luta ,a favor d meio ambiente , todos temos que ter a responsabilidade d cuidar daguilo q precisamos p viver O NOSSO PLANETA .
ResponderExcluirConcordo com cada palavra!! Brasileiro que mudar o país mas não sabe mudar os próprios habitos!! Desculpa falar dessa forma mas brasileiro é porco e sem educação e não está nem ai pra nada. Porque quando a gente viaja pra fora não ve essas coisas?? Nos estados unidos não se encontra um papel no chão e não estou babando ovo é uma questão de amor a pátria, saber que aquilo é seu e precisa ser cuidado!! Alias tem algumas cidades do sul que são exemplos lindos de cuidado, ruas limpas, transporte publico que funciona, mas como implantar isso em todos os lugares se as coisas são depredadas, pichadas e sujas????
ResponderExcluirPovo brasileiro precisa aprender muito ainda, falta de educação não é so escola, é coisa de casa que todos deveriam aprender, principalmente a ser cidadão....
Estou alegre por encontrar blogs como o seu, ao ler algumas coisas,
ResponderExcluirreparei que tem aqui um bom blog, feito com carinho,
Posso dizer que gostei do que li e desde já quero dar-lhe os parabéns,
decerto que virei aqui mais vezes.
Sou António Batalha.
Que lhe deseja muitas felicidade e saúde em toda a sua casa.
PS.Se desejar visite O Peregrino E Servo, e se o desejar
siga, mas só se gostar, eu vou retribuir seguindo também o seu.